Por Maria Raphaelly G. de Almeida e Ana Clara G. de Almeida.
"A Herança" é o primeiro romance da autora norte-americana Louisa May Alcott (1832-1888), escrito em 1849, quando a autora tinha apenas 17 anos. Alcott nunca tentou publicar essa obra, que foi passando por seus herdeiros até que, em 1974, foi depositada na Universidade de Harvard, onde foi catalogada e arquivada, com pouquíssimas pessoas sabendo de sua existência. O manuscrito foi redescoberto em 1988, e publicado em 1997.
A história se passa na Inglaterra do século XIX, na "majestosa propriedade de lorde Hamilton, em parte castelo, em parte mansão." A viúva do proprietário, lady Hamilton, vivia com seus filhos Arthur e Amy, sua sobrinha lady Ida Clare, e Edith Adelon, a preceptora italiana de Amy, que, órfã, havia sido acolhida por lorde Hamilton quando criança.
A história gira em torno da visita de lorde Percy, um bondoso amigo de Arthur. Lady Ida, que, "embora tivesse muitos admiradores", era arrogante e desesperava-se com a rápida passagem dos anos, que não lhe traziam nenhum casamento, tentava incessantemente conquistá-lo; porém lorde Percy apaixonava-se cada vez mais pela gentil e abnegada Edith. Lady Ida, então, passou a tratá-la o mais cruelmente que pôde; isso, porém, apenas dava mais oportunidades para que Edith demonstrasse seu bom caráter.
Edith ajudava todos os doentes do lugar, tanto com o dinheiro que ganhava vendendo seus quadros, quanto com várias visitas. Em uma dessas visitas, a enferma Teresa suplica-lhe que proteja seu filho Louis, o qual trabalhava como pajem na casa de lady Hamilton. Edith promete que assim o faria, e secretamente passa a vigiar o garoto, que, envolvido com apostas, começa a furtar sua patroa. Em outra visita, Edith descobre sua verdadeira identidade: a filha do irmão mais velho do marido de lady Hamilton, e, portanto, a herdeira de toda a propriedade. A heroína, porém, queima os documentos que alegam sua herança , pois não queria que o amor de seus amigos se baseasse em sua posição.
O clímax da história ocorre quando lady Hamilton nota a falta de pequenas somas de dinheiro e algumas notas bancárias. Lady Ida vê nisso uma oportunidade de arruinar Edith; por isso, induz lady Hamilton a suspeitar dela, fazendo "uma pequena cruz no canto inferior", a marca de lady Hamilton, em notas que encontra na escrivaninha de Edith. Edith, calmente, se defende, e tristemente diz que não pode revelar quem é o ladrão. Lady Hamilton, indignada, dá-lhe um prazo para que mude de ideia, pois não poderia mais oferecer um lar "a alguém que acha que uma promessa feita para ocultar a culpa é mais importante do que a gratidão por tantos anos." Tudo parecia perdido, até que Louis, após a morte de sua mãe, confessa sua culpa, entrega lady Ida, e revela a verdadeira identidade de Edith, mostrando o testamento do lorde Hamilton mais velho, o qual pegara da mesa de Edith antes que ela o queimasse.
Lady Ida, apesar de perdoada por Edith, continua a viver amargurada; os outros, porém, alegram-se com o novo membro da família, e o livro termina com o pedido de casamento de lorde Percy a Edith.
Escrito com linguagem simples, "A Herança" já revela o estilo da autora, mostrando similaridades com suas obras posteriores, principalmente "Mulherzinhas", seu livro mais famoso, escrito dezenove anos depois (1868). Assim como nesse livro, Alcott usa mulheres como personagens principais, valoriza a abnegação, a gentileza e a dedicação, e coloca a arrogância e o orgulho, vistos principalmente em Lady Ida e lorde Arlington (um visitante que deseja casar-se com Edith apenas por sua beleza), como principais defeitos a serem evitados.
Louisa May Alcott aos 25 anos.
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